segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

EVOCAÇÃO Tempos de Guiné

Havia gado a pastar relativamente perto o que indiciava que os habitantes, velhos mulheres e crianças estavam provavelmente escondidos muito perto.
Os guerrilheiros, esses, estariam em acções fora, caso contrário teriam atacado...
Em dado momento,alguém que presumo tenha sido o próprio capitão de Cafal(que à guiza do nosso optara por acompanhar esta operação) esquecendo que atrás de si havia ainda um número significativo de homens,na qualidade de "inspirador de Rambo",decidiu atear fogo às tabancas...
De imediato,umas rajadas curtas de meia duzia de Kalashs,troou os ares denunciando a posição dos até aí invisiveis guardadores de gado - objectivamente para alertar os guerrilheiros que estivessem na zona - possibilitando-nos um envolvimento que proporcionaria "apanhá-los à mão" e consequentemente "fazer ronco"...
A primeira reacção de quem sente os disparos é obviamente a procura do solo para de seguida avaliar a situação...
o pessoal do fim da "fila de pirilau" método como habitualmente nos deslocávamos ficou "entalado" entre o fogo labaredas e o fogo munições porque os da frente não reagiam, não avançavam, tornando critica a nossa posição...
Conseguimos sair do braseiro ao fim de algum tempo e quando esperávamos a ordem de envolvimento por quem chefiava a operação( capitão de Cafal) apercebemo-nos que se iniciara uma galopada desenfreada por entre o capim tendo como objectivo primeiro a saída do local que poderia ser um ninho de vespas se acaso fôssemos envolvidos...
Cá atrás fomos obrigados a fazer o mesmo para evitar a perda de contacto...

Ao longo dos vinte e cinco meses de comissão, foi o acto de que entendo nos devemos envergonhar todos... Mas chefia é chefia e na tropa ordens não se discutem...

Noutra operação a companhia "perdeu" a última secção, que o autor destas linhas comandava quando lá na frente desligaram os AVP1 no seu frenesim louco de "catar recuerdos" nas palhotas IN...
Decidi ficar a proteger a rectaguarda, não fosse acontecer sermos envolvidos pelo lado da bolanha que antes atravessáramos para ali chegar, e entretanto o pessoal da frente embrenhou-se no tabancal e dali arrancou "sem dar cavaco"...
Apercebendo-me da falta de contacto e não conseguindo,via AVP1, obter qualquer ligação, perdi ao Rodeia( transmissões que ficara com a secção) para usar outras frequências, redundando as "démarches" na ligação com outra tropa que andava no sectos que, por sua vez, através do Racal, alertou o resto do nosso pessoal para a ocorrência...
Regressaram para nos juntarmos uma vez que os guias seguiram com eles...

Aquando das férias do Caseiro,bom rapaz mas vaguemestre bastante criticado durante toda a comissão devido à forma pouco variada como elaborava os menús do dia a dia, onde o estilhaço de frango, o peixe da bolanha ou o esparguete com chouriço eram invariavelmente a base da dieta, decidiu o capitão Terrivel( provavelmente incitado pelo saudoso 1º Ginja...)colocar-me nessa função para a qual evidentemente não estava talhado esperançado talvez no meu insucesso para dessa forma acabarem as "bocas" que muito justamente todos nós lançávamos ao Caseiro...

Fi-lo sem nunca ter passado por uma cozinha, desconhecendo por completo os segredos da culinária( tinha vagamente a noção de como se estrelava um ovo...) para conseguir
pela PRIMEIRA VEZ, ao fim de tanto tempo decorrido, oferecer um quarto de frango com batata assada no forno da padaria, em vez dos habituais "estilhaços" com esparguete ou massa de cotovelo como sempre nos brindara o Zé Caseiro.

Em escassos trinta dias,presenteei toda a companhia com duas vacas quando o habitual era apenas uma, se tanto...já que meses havia em que o recurso às gazelas dos caçadores era abusivo e o gado bovino não constava das ementas...

Infelizmente para mim não pude prolongar a experiência pois os trinta dias fora do mato como que voaram, e o pessoal voltou a ter de se resignar com a comida do Caseiro...

Outro episódio que me ocorre é o de um ataque a Cafine onde foi usada uma nova arma, o RPG8, experimentada com êxito no Guilége, como fez questão de sublinhar o capitão cubano ROMANO TORRES, através de uma munição da referida arma e um escrito onde nos intimava a abandonar a zona em três dias, sob pena de ficarmos para sempre ali em tumbas...
Foram três dias angustiantes mas que acabariam por dar em nada.
Digamos que o efeito psicológico surtira efeito já que passamos esse espaço de tempo sob tensão...
O ataque aconteceu sim mas apenas cerca de quinze dias depois mas nada a que não estivessemos habituados já e ao qual responderíamos de forma adequada dentro dos parâmetros correctos habituais...

Relembro um ataque em que o saudoso Martins, bastante doente com paludismo teve de abandonar a tenda/secretaria "afogando-se" nos dejectos do exterior uma vez que naquele estado não tinha tempo de se deslocar à "casa de banho" e aliviava-se onde era mais perto...

Em boa hora o fez pois que a secretaria pura e simplesmenmte ardeu...pudera também era de lona...
Noutra ocasião,nas covas de Cafal,um pavoroso incêndio numa delas( os locais eram bastante propícios pois a palha que se deitava no solo para evitar o contacto directo do colchão de ar com a terra,a juntar às munições que por ali inadvertidamente iam sendo espalhadas mercê das condições infra humanas de habitabilidade a que se juntava ainda a função de pequenos paióis para guarda de munições de morteiro 6o e bazuka que levávamos todos os dias nas saídas ao mato)
levou à atitude, a todos os títulos heroica, do falecido Barbosa que sob as labaredas
e disparos das munições espalhadas no solo que por acção do calor iam criando algum
pânico,se atreveu a entrar no buraco arrastando uma caixa de morteiros 60 que a explodir iria por certo ter consequências desastrosas pra depois ir buscar a sua mala com a roupa salvando-a das chamas.

Ficou com as costas em estado verdadeiramente lastimoso com a pele a cair-lhe aos pedaços enormes mau grado o rápido tratamento por parte dos enfermeiros.

Disse-me mais tarde que só se atreveu a avançar porque se sentia responsável pelo acto( era o unico daquela cova que fumava...) e fundamentalmente pela necessidade de apanhar a mala onde tinha o dinheiro que a família havia enviado para tirar a carta de condução em Bissau...)

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