Informação:
a página anterior que deveria ter sido imprimida neste blog foi,por lapso,inserida no meu outro blog Http://manuelmaia-cortanacasaca.blogspot.com
RAZÕES MOTIVADORAS DA PRECOCE DESLOCALIZAÇÃO DA 2ª CCAÇ DO BCAÇ 4610/72," OS TERRÍVEIS", DO SECTOR DO CANTANHEZ PARA O DUGAL E SEUS DESTACAMENTOSD DE FATIM E CHUGUÉ (XUGUÉ ?).
I-Quantidade,qualidade e rapidez no desenvolvimento da actividade dos reordenamentos.
II-Emparia com as populações.
III-"Prisão" de Rafael Barbosa,um dos líderes guinéus do PAIGC.
Tínhamos plena consciência de que a feitura de um trabalho similar ao que fizeramos em BISSUM poderia servir de mola propulsora para uma saída rápida daquele que era,à altura,o mais complicado espaço de manobra do intrincado teatro de operações guinéu
(como gostam de dizer os "profissionais das guerras do ar condicionado" que carregam ao peito medalhas quantas vezes imerecidas colocadas de forma arbitrária,( um pouco no sistema... pega lá uma e dá cá outra...)sempre que inquiridos por uma comunicação social subserviente e enfeudada...
À guiza do que acontecera a Norte,era preciso sensibilizar a companhia por forma a acelerar processos e aumentar desempenhos conducentes àquele desiderato.
O espírito de corpo e de sofrimento, a capacidade de sacrifício e de entrega dos homensque orgulhosamente faziam parte da já badalada companhia de "Os Terríveis" -pese embora todas as vicissitudes a que haviam já sido sujeitos - não deixaria de vir ao de cima sempre que a solicitação surgisse.
E de novo,todos disseram presente.
Ninguém imitou o poeta Alegre...
A introdução do sistema de equipas especializadas gizado pelo alferes Oliveira, que dirigia os reordenamentos,haveria de dar frutos deixando boqueabertos - tal a eficácia evidenciada - o comandante Miranda da REP-POP( repartição das operações) e o malogrado major Mantovani( operações da Força Aérea) quando na função de fiscalização viram num curto espaço de uma semana o número de habitações concluídas passar de quatro para mais de quarenta...
Tinha "marca na ourela" o trabalho de "Os Terríveis".
E se em BISSUM assim fôra,também agora neste fim do mundo do inferno do Cantanhez(Cafine)o desafio seria vencido.
O esforço sobrehumano pedido aos operacionais que se viam desfalcados com as saídas de tantos membros para a constituição desses grupos de trabalho,haveria de ser recompensado com o encurtamento do tempo previsível para o período de vivência naquela zona desprovida de tudo,da água potável ao acesso aos bens de consumo para além da dieta miserabilista do quartel(?)onde se comia de marmita o arroz da bolanha,qual cimento de construçã barata, ou o esparguete com chouriço de colorau comuma fatia de fiambre frito,par além do peixe carvalho sem v...
A saída precoce era o merecido prémio pelo trabalho desenvolvido a nível operacional com a acalmia relativa introduzida na zona e pela obra social consubstanciada na edificação de largas dezenas de habitações para fixar a população que a guerra obrigara a sair...
Mal constituídas as equipas de "adobistas",de pedreiros,trolhas e carpinteiros e num ápice se formataram os moldes necessáriosà produção intensiva,tão logo"aguadeiros" iam empapando a terra que a equipa de cavadores,de forma sistemática,ia roubando ao empedernido solo,e onde os capinadores depositavam a palha seca que afanosamente cortavam...
O trabalho de pisagem a pés nús formava uma amálgama pastosa a que o capim emprestava uma função aglutinadora,de consistência ao adobe que mais tarde,após exposiçãosolar de três ou quatro dias, se transformava num autêntico bloco de cimento ou pedra,tal o grau de dureza que evidenciava...
Era o sistema de trabalho em série em toda a sua plenitude...
A esse trabalho de pisagem,os nativos(destinstários finais das edificações...) quase sempre se furtavam mau grado o incentivo da cerveja fresca que por vezes a companhia,e noutras ocasiões,o autor destas linhas,utilizavam para acelerar processos...
Coube portanto a "Os Terriveis"(salvo situações pontualíssimas de um ou outro nativo) esse supremo esforço de "suja pés" seguido do hercúleo trabalho de feitura de alicerces - num rasgar de solo duro qual pedra - a que se seguiria o "levantar"
das paredes para finalmente se instalar o travejamento de madeira de cibo,rija tal qual ferro,e chapa canelada de zinco.
O trabalho de caiação remataria a obra.
Foram várias dezenas de habitações para os indígenas, para além de umas quantas como alojamento da companhia farta das tendas e das "covas de Cafal" (1º e 3º grupos...)
Recordo que os graduados iniciaram a construção de uma tabanca para servir de messe e bar que entretanto seria concluída pelos especialistas dada a nossa manifesta dificuldade em fazê-lo de forma perfeita, apesar da boa vontade evidenciada...
À distância de trinta e cinco anos,estou certo de que todos nos podemos orgulhar pela obra ali deixada.
II- O estreitamento das relações com a população,apanágio de todos nós, "Terríveis",durante o périplo de mais de dois anos passados no território,permitiu que a companhia fosse sempre benquista,ao invés de tantas outras consideradas "nongratas fruto de atitudes racistas xenófobas e prepotentes que minavam,inclusivé,todo o trabalho de "psícola" (como lhe chamávamos...) dimanado de
Bissau e que visava "trazer" as populações para o nosso lado...
Recordo aqui um episódio que ilustra bem o relacionamento existente entre a comunidade militar e civil.
Aquando da nossa presença em BISSUM,dispunhamos de um serviço de taxi aéreo,pago por todos,que contratualmente impunha o pagamento antecipado da visita semanal daeronave
civil à localidade para levar correio e frescos bem como transporte de e para férias dos militares.
Já com as minhas marcadas em BISSAU, bilhete de avião pago,sou confrontado com a ausência da avioneta semanal da quarta feira que antecedia a viagem para Lisboa.
O primeiro sargento Ginja havia esquecido de enviar o dinheiro...
A solução passava por tentar arranjar uma evacuação de alguém da tabanca que era bem rápida, já que de outra forma não poderia embarcar a tempo para BISSAU...
Acompanhado da autoridade da saúde do local, o malogrado furriel enfermeiro Antunes,desloquei-me à tabanca para falar com o cipaio Jorge no sentido de procurar alguém doente para evacuar para BISSAU por forma a que pudesse apanhar "boleia" no
vooque me garantiria as férias...
Com a preciosa ajuda do Jorge lá se arranjou, à terceira ou quarta tentativa,uma idosa que até talvez nem estivesse doente uma vez que ofereceu alguma "resistência" para se deslocar...
É que uma evacuação de alguém da população era prioritária.
De imediato surgiu a abençoada avioneta onde já vinha um passageiro,galinhas e até uma pequena cabra, e foi a forma de solucionar o lapso do primeiro sargento garantindo desssa forma as merecidas férias a este pobre de Cristo que se pudesse teria vindo logo no dia imediato ao da chegada.
Passavam apenas cinco meses desde a chegada.
Se não fôra a insistência do Jorge não teria havido férias.
III- Por fim a capacidade operacional que Marcelino da Mata,essa lenda viva da guerra de guerrilha, confirmaria através de operações conjuntas a atestarem da "limpeza" das nossas zonas de intervenção.
A "creja no cimo do bolo" materializar-se-ia com a "prisão" de Rafael Barbosa,um dos históricos do PAIGC guinéu, em rota de colisão com a facção caboverdiana no poder
representada por Cabral,Pires e outros...
Apesar de fortuita,essa detenção que efectuamos aquando da recolha de adobes de casas destruídas- visando o aumento de capacidade de edificação - terá sido a "ajuda Divina" para quem tanto como nós, sofrera na carne as vicissitudes de uma guerra que parecia não ter fim.
Acabamos por sair dali ainda antes da companhia de Cafal à qual os nossos primeiro e terceiro grupos haviam estado adidos alguns meses antes da chegada do resto de "Os Terríveis".
Alguém em BISSAU entendeu o nosso esforço e decidiu mandar-nos para o merecido descanso.
Recebemos a notícia com incomensurável satisfação,conscientes do dever cumprido, certos de que se um dia por mais longínquo que seja, surgir a possibilidade de nos deslocarmos àquele novo país,seremos bem recebidos em qulquer das localidades onde estivemos.
Estou convicto de que em todos fervilha a esperança de realizar esse sonho.
sábado, 31 de janeiro de 2009
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