Informação:
a página anterior que deveria ter sido imprimida neste blog foi,por lapso,inserida no meu outro blog Http://manuelmaia-cortanacasaca.blogspot.com
RAZÕES MOTIVADORAS DA PRECOCE DESLOCALIZAÇÃO DA 2ª CCAÇ DO BCAÇ 4610/72," OS TERRÍVEIS", DO SECTOR DO CANTANHEZ PARA O DUGAL E SEUS DESTACAMENTOSD DE FATIM E CHUGUÉ (XUGUÉ ?).
I-Quantidade,qualidade e rapidez no desenvolvimento da actividade dos reordenamentos.
II-Emparia com as populações.
III-"Prisão" de Rafael Barbosa,um dos líderes guinéus do PAIGC.
Tínhamos plena consciência de que a feitura de um trabalho similar ao que fizeramos em BISSUM poderia servir de mola propulsora para uma saída rápida daquele que era,à altura,o mais complicado espaço de manobra do intrincado teatro de operações guinéu
(como gostam de dizer os "profissionais das guerras do ar condicionado" que carregam ao peito medalhas quantas vezes imerecidas colocadas de forma arbitrária,( um pouco no sistema... pega lá uma e dá cá outra...)sempre que inquiridos por uma comunicação social subserviente e enfeudada...
À guiza do que acontecera a Norte,era preciso sensibilizar a companhia por forma a acelerar processos e aumentar desempenhos conducentes àquele desiderato.
O espírito de corpo e de sofrimento, a capacidade de sacrifício e de entrega dos homensque orgulhosamente faziam parte da já badalada companhia de "Os Terríveis" -pese embora todas as vicissitudes a que haviam já sido sujeitos - não deixaria de vir ao de cima sempre que a solicitação surgisse.
E de novo,todos disseram presente.
Ninguém imitou o poeta Alegre...
A introdução do sistema de equipas especializadas gizado pelo alferes Oliveira, que dirigia os reordenamentos,haveria de dar frutos deixando boqueabertos - tal a eficácia evidenciada - o comandante Miranda da REP-POP( repartição das operações) e o malogrado major Mantovani( operações da Força Aérea) quando na função de fiscalização viram num curto espaço de uma semana o número de habitações concluídas passar de quatro para mais de quarenta...
Tinha "marca na ourela" o trabalho de "Os Terríveis".
E se em BISSUM assim fôra,também agora neste fim do mundo do inferno do Cantanhez(Cafine)o desafio seria vencido.
O esforço sobrehumano pedido aos operacionais que se viam desfalcados com as saídas de tantos membros para a constituição desses grupos de trabalho,haveria de ser recompensado com o encurtamento do tempo previsível para o período de vivência naquela zona desprovida de tudo,da água potável ao acesso aos bens de consumo para além da dieta miserabilista do quartel(?)onde se comia de marmita o arroz da bolanha,qual cimento de construçã barata, ou o esparguete com chouriço de colorau comuma fatia de fiambre frito,par além do peixe carvalho sem v...
A saída precoce era o merecido prémio pelo trabalho desenvolvido a nível operacional com a acalmia relativa introduzida na zona e pela obra social consubstanciada na edificação de largas dezenas de habitações para fixar a população que a guerra obrigara a sair...
Mal constituídas as equipas de "adobistas",de pedreiros,trolhas e carpinteiros e num ápice se formataram os moldes necessáriosà produção intensiva,tão logo"aguadeiros" iam empapando a terra que a equipa de cavadores,de forma sistemática,ia roubando ao empedernido solo,e onde os capinadores depositavam a palha seca que afanosamente cortavam...
O trabalho de pisagem a pés nús formava uma amálgama pastosa a que o capim emprestava uma função aglutinadora,de consistência ao adobe que mais tarde,após exposiçãosolar de três ou quatro dias, se transformava num autêntico bloco de cimento ou pedra,tal o grau de dureza que evidenciava...
Era o sistema de trabalho em série em toda a sua plenitude...
A esse trabalho de pisagem,os nativos(destinstários finais das edificações...) quase sempre se furtavam mau grado o incentivo da cerveja fresca que por vezes a companhia,e noutras ocasiões,o autor destas linhas,utilizavam para acelerar processos...
Coube portanto a "Os Terriveis"(salvo situações pontualíssimas de um ou outro nativo) esse supremo esforço de "suja pés" seguido do hercúleo trabalho de feitura de alicerces - num rasgar de solo duro qual pedra - a que se seguiria o "levantar"
das paredes para finalmente se instalar o travejamento de madeira de cibo,rija tal qual ferro,e chapa canelada de zinco.
O trabalho de caiação remataria a obra.
Foram várias dezenas de habitações para os indígenas, para além de umas quantas como alojamento da companhia farta das tendas e das "covas de Cafal" (1º e 3º grupos...)
Recordo que os graduados iniciaram a construção de uma tabanca para servir de messe e bar que entretanto seria concluída pelos especialistas dada a nossa manifesta dificuldade em fazê-lo de forma perfeita, apesar da boa vontade evidenciada...
À distância de trinta e cinco anos,estou certo de que todos nos podemos orgulhar pela obra ali deixada.
II- O estreitamento das relações com a população,apanágio de todos nós, "Terríveis",durante o périplo de mais de dois anos passados no território,permitiu que a companhia fosse sempre benquista,ao invés de tantas outras consideradas "nongratas fruto de atitudes racistas xenófobas e prepotentes que minavam,inclusivé,todo o trabalho de "psícola" (como lhe chamávamos...) dimanado de
Bissau e que visava "trazer" as populações para o nosso lado...
Recordo aqui um episódio que ilustra bem o relacionamento existente entre a comunidade militar e civil.
Aquando da nossa presença em BISSUM,dispunhamos de um serviço de taxi aéreo,pago por todos,que contratualmente impunha o pagamento antecipado da visita semanal daeronave
civil à localidade para levar correio e frescos bem como transporte de e para férias dos militares.
Já com as minhas marcadas em BISSAU, bilhete de avião pago,sou confrontado com a ausência da avioneta semanal da quarta feira que antecedia a viagem para Lisboa.
O primeiro sargento Ginja havia esquecido de enviar o dinheiro...
A solução passava por tentar arranjar uma evacuação de alguém da tabanca que era bem rápida, já que de outra forma não poderia embarcar a tempo para BISSAU...
Acompanhado da autoridade da saúde do local, o malogrado furriel enfermeiro Antunes,desloquei-me à tabanca para falar com o cipaio Jorge no sentido de procurar alguém doente para evacuar para BISSAU por forma a que pudesse apanhar "boleia" no
vooque me garantiria as férias...
Com a preciosa ajuda do Jorge lá se arranjou, à terceira ou quarta tentativa,uma idosa que até talvez nem estivesse doente uma vez que ofereceu alguma "resistência" para se deslocar...
É que uma evacuação de alguém da população era prioritária.
De imediato surgiu a abençoada avioneta onde já vinha um passageiro,galinhas e até uma pequena cabra, e foi a forma de solucionar o lapso do primeiro sargento garantindo desssa forma as merecidas férias a este pobre de Cristo que se pudesse teria vindo logo no dia imediato ao da chegada.
Passavam apenas cinco meses desde a chegada.
Se não fôra a insistência do Jorge não teria havido férias.
III- Por fim a capacidade operacional que Marcelino da Mata,essa lenda viva da guerra de guerrilha, confirmaria através de operações conjuntas a atestarem da "limpeza" das nossas zonas de intervenção.
A "creja no cimo do bolo" materializar-se-ia com a "prisão" de Rafael Barbosa,um dos históricos do PAIGC guinéu, em rota de colisão com a facção caboverdiana no poder
representada por Cabral,Pires e outros...
Apesar de fortuita,essa detenção que efectuamos aquando da recolha de adobes de casas destruídas- visando o aumento de capacidade de edificação - terá sido a "ajuda Divina" para quem tanto como nós, sofrera na carne as vicissitudes de uma guerra que parecia não ter fim.
Acabamos por sair dali ainda antes da companhia de Cafal à qual os nossos primeiro e terceiro grupos haviam estado adidos alguns meses antes da chegada do resto de "Os Terríveis".
Alguém em BISSAU entendeu o nosso esforço e decidiu mandar-nos para o merecido descanso.
Recebemos a notícia com incomensurável satisfação,conscientes do dever cumprido, certos de que se um dia por mais longínquo que seja, surgir a possibilidade de nos deslocarmos àquele novo país,seremos bem recebidos em qulquer das localidades onde estivemos.
Estou convicto de que em todos fervilha a esperança de realizar esse sonho.
sábado, 31 de janeiro de 2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
Chega entretanto o dia da saida do CANTANHEZ, o segundo melhor de entre os setecentos e sessenta que contamos da GUINÉ,sendo que o melhor de todos foi indubitavelmente o treze de Julho de 1974...
Todos,incluindo o 2º e 4º grupos que entretanto haviam rumado para COBUMBA,(outro buraco)ao que disseram, onde era prato comum "embrulhar forte e feio".
Todos,dizia,abalaríamos para junto de NHACRA, na periferia da capital onde se situava a radio emissora, para um lugar chanmado DUGAL.
A malta da "música"(não operacionais) ficaria no célebre quartel das bocas e do arroz xau-xau com camarão à indiana,especialidade culinária passada de companhia para companhia, que se tornou ao longo dos anos,local de paragem obrigatório para os operacionais de pacotilha que por BISSAU se espraiavam, sempre que obrigados a demandar MANSOA, dada a sua localização na berma da estrada entre as duas cidades(?).
Quanto ao outros,o terceiro grupo sairia lesado ao ser atirado para o destacamento de FATIM, desprovido de cozinha,por isso mesmo dependente do transporte da comida em enormes panelas, onde após catorze quilómetros de dura picada chegava fria, regra geral,piorando sobremaneira a sua já paupérrima qualidade que apresentava à saída...
Já oprimeiro grupo seria catapultado para o CHUGUÉ (XUGUÉ ?), que mau grado distar metade do trajecto não reunia também,à guiza de FATIM,as condições de habitabilidade,alimentação e higiene que o DUGAL registava,uma vez que a comida lhes chegava igualmente via unimog, e a água, como no nosso caso, era trazida em barris dado não dispormos de poço próprio...
Era o custo da interioridadecomo agora se diz...
Daqui de Fatim recordo agora um celebérrimo almoço em domingo que esperávamos fosse de festa grande,já que o Forte, andava pelo beicinho atrás de umas fulanas caboverdeanas do posto de rádio "mortas" por casar com branco...
Conveuceu-nos a mim e ao Moura de que engatara as ditas e arranjaria mais três para nós e o Brito.
Faríamos uma almoçarada com porco assado no forno(que o Fernandes e o Maurício prepararam...)e depois viria o resto...
Arranjou-se um gravador umas fitas e preparamo-nos para o bacanal prometido...
No dia aprazado,já tardiamente, surge o Forte, em automóvel alugado,com as fulanas e outro carro onde vinham os pais e irmãos... Só faltou o canário e o periquito...
Escusado será dizer que teve de ser o Forte a pagar todo o leitão pois eu e o Moura
não estivemos pelos ajustes...
Fatim representou para nós o descanso merecido que foi apenas cortado por um ou outro episódio sem relevância à excepção do caso Silva, esse sim que nos deu "água pela barba"...
Outro incidente foi a recusa à água,já depois da era dos cravos,em que a febre revolucionária começava as alastrar...
Todos,incluindo o 2º e 4º grupos que entretanto haviam rumado para COBUMBA,(outro buraco)ao que disseram, onde era prato comum "embrulhar forte e feio".
Todos,dizia,abalaríamos para junto de NHACRA, na periferia da capital onde se situava a radio emissora, para um lugar chanmado DUGAL.
A malta da "música"(não operacionais) ficaria no célebre quartel das bocas e do arroz xau-xau com camarão à indiana,especialidade culinária passada de companhia para companhia, que se tornou ao longo dos anos,local de paragem obrigatório para os operacionais de pacotilha que por BISSAU se espraiavam, sempre que obrigados a demandar MANSOA, dada a sua localização na berma da estrada entre as duas cidades(?).
Quanto ao outros,o terceiro grupo sairia lesado ao ser atirado para o destacamento de FATIM, desprovido de cozinha,por isso mesmo dependente do transporte da comida em enormes panelas, onde após catorze quilómetros de dura picada chegava fria, regra geral,piorando sobremaneira a sua já paupérrima qualidade que apresentava à saída...
Já oprimeiro grupo seria catapultado para o CHUGUÉ (XUGUÉ ?), que mau grado distar metade do trajecto não reunia também,à guiza de FATIM,as condições de habitabilidade,alimentação e higiene que o DUGAL registava,uma vez que a comida lhes chegava igualmente via unimog, e a água, como no nosso caso, era trazida em barris dado não dispormos de poço próprio...
Era o custo da interioridadecomo agora se diz...
Daqui de Fatim recordo agora um celebérrimo almoço em domingo que esperávamos fosse de festa grande,já que o Forte, andava pelo beicinho atrás de umas fulanas caboverdeanas do posto de rádio "mortas" por casar com branco...
Conveuceu-nos a mim e ao Moura de que engatara as ditas e arranjaria mais três para nós e o Brito.
Faríamos uma almoçarada com porco assado no forno(que o Fernandes e o Maurício prepararam...)e depois viria o resto...
Arranjou-se um gravador umas fitas e preparamo-nos para o bacanal prometido...
No dia aprazado,já tardiamente, surge o Forte, em automóvel alugado,com as fulanas e outro carro onde vinham os pais e irmãos... Só faltou o canário e o periquito...
Escusado será dizer que teve de ser o Forte a pagar todo o leitão pois eu e o Moura
não estivemos pelos ajustes...
Fatim representou para nós o descanso merecido que foi apenas cortado por um ou outro episódio sem relevância à excepção do caso Silva, esse sim que nos deu "água pela barba"...
Outro incidente foi a recusa à água,já depois da era dos cravos,em que a febre revolucionária começava as alastrar...
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
Havia gado a pastar relativamente perto o que indiciava que os habitantes, velhos mulheres e crianças estavam provavelmente escondidos muito perto.
Os guerrilheiros, esses, estariam em acções fora, caso contrário teriam atacado...
Em dado momento,alguém que presumo tenha sido o próprio capitão de Cafal(que à guiza do nosso optara por acompanhar esta operação) esquecendo que atrás de si havia ainda um número significativo de homens,na qualidade de "inspirador de Rambo",decidiu atear fogo às tabancas...
De imediato,umas rajadas curtas de meia duzia de Kalashs,troou os ares denunciando a posição dos até aí invisiveis guardadores de gado - objectivamente para alertar os guerrilheiros que estivessem na zona - possibilitando-nos um envolvimento que proporcionaria "apanhá-los à mão" e consequentemente "fazer ronco"...
A primeira reacção de quem sente os disparos é obviamente a procura do solo para de seguida avaliar a situação...
o pessoal do fim da "fila de pirilau" método como habitualmente nos deslocávamos ficou "entalado" entre o fogo labaredas e o fogo munições porque os da frente não reagiam, não avançavam, tornando critica a nossa posição...
Conseguimos sair do braseiro ao fim de algum tempo e quando esperávamos a ordem de envolvimento por quem chefiava a operação( capitão de Cafal) apercebemo-nos que se iniciara uma galopada desenfreada por entre o capim tendo como objectivo primeiro a saída do local que poderia ser um ninho de vespas se acaso fôssemos envolvidos...
Cá atrás fomos obrigados a fazer o mesmo para evitar a perda de contacto...
Ao longo dos vinte e cinco meses de comissão, foi o acto de que entendo nos devemos envergonhar todos... Mas chefia é chefia e na tropa ordens não se discutem...
Noutra operação a companhia "perdeu" a última secção, que o autor destas linhas comandava quando lá na frente desligaram os AVP1 no seu frenesim louco de "catar recuerdos" nas palhotas IN...
Decidi ficar a proteger a rectaguarda, não fosse acontecer sermos envolvidos pelo lado da bolanha que antes atravessáramos para ali chegar, e entretanto o pessoal da frente embrenhou-se no tabancal e dali arrancou "sem dar cavaco"...
Apercebendo-me da falta de contacto e não conseguindo,via AVP1, obter qualquer ligação, perdi ao Rodeia( transmissões que ficara com a secção) para usar outras frequências, redundando as "démarches" na ligação com outra tropa que andava no sectos que, por sua vez, através do Racal, alertou o resto do nosso pessoal para a ocorrência...
Regressaram para nos juntarmos uma vez que os guias seguiram com eles...
Aquando das férias do Caseiro,bom rapaz mas vaguemestre bastante criticado durante toda a comissão devido à forma pouco variada como elaborava os menús do dia a dia, onde o estilhaço de frango, o peixe da bolanha ou o esparguete com chouriço eram invariavelmente a base da dieta, decidiu o capitão Terrivel( provavelmente incitado pelo saudoso 1º Ginja...)colocar-me nessa função para a qual evidentemente não estava talhado esperançado talvez no meu insucesso para dessa forma acabarem as "bocas" que muito justamente todos nós lançávamos ao Caseiro...
Fi-lo sem nunca ter passado por uma cozinha, desconhecendo por completo os segredos da culinária( tinha vagamente a noção de como se estrelava um ovo...) para conseguir
pela PRIMEIRA VEZ, ao fim de tanto tempo decorrido, oferecer um quarto de frango com batata assada no forno da padaria, em vez dos habituais "estilhaços" com esparguete ou massa de cotovelo como sempre nos brindara o Zé Caseiro.
Em escassos trinta dias,presenteei toda a companhia com duas vacas quando o habitual era apenas uma, se tanto...já que meses havia em que o recurso às gazelas dos caçadores era abusivo e o gado bovino não constava das ementas...
Infelizmente para mim não pude prolongar a experiência pois os trinta dias fora do mato como que voaram, e o pessoal voltou a ter de se resignar com a comida do Caseiro...
Outro episódio que me ocorre é o de um ataque a Cafine onde foi usada uma nova arma, o RPG8, experimentada com êxito no Guilége, como fez questão de sublinhar o capitão cubano ROMANO TORRES, através de uma munição da referida arma e um escrito onde nos intimava a abandonar a zona em três dias, sob pena de ficarmos para sempre ali em tumbas...
Foram três dias angustiantes mas que acabariam por dar em nada.
Digamos que o efeito psicológico surtira efeito já que passamos esse espaço de tempo sob tensão...
O ataque aconteceu sim mas apenas cerca de quinze dias depois mas nada a que não estivessemos habituados já e ao qual responderíamos de forma adequada dentro dos parâmetros correctos habituais...
Relembro um ataque em que o saudoso Martins, bastante doente com paludismo teve de abandonar a tenda/secretaria "afogando-se" nos dejectos do exterior uma vez que naquele estado não tinha tempo de se deslocar à "casa de banho" e aliviava-se onde era mais perto...
Em boa hora o fez pois que a secretaria pura e simplesmenmte ardeu...pudera também era de lona...
Noutra ocasião,nas covas de Cafal,um pavoroso incêndio numa delas( os locais eram bastante propícios pois a palha que se deitava no solo para evitar o contacto directo do colchão de ar com a terra,a juntar às munições que por ali inadvertidamente iam sendo espalhadas mercê das condições infra humanas de habitabilidade a que se juntava ainda a função de pequenos paióis para guarda de munições de morteiro 6o e bazuka que levávamos todos os dias nas saídas ao mato)
levou à atitude, a todos os títulos heroica, do falecido Barbosa que sob as labaredas
e disparos das munições espalhadas no solo que por acção do calor iam criando algum
pânico,se atreveu a entrar no buraco arrastando uma caixa de morteiros 60 que a explodir iria por certo ter consequências desastrosas pra depois ir buscar a sua mala com a roupa salvando-a das chamas.
Ficou com as costas em estado verdadeiramente lastimoso com a pele a cair-lhe aos pedaços enormes mau grado o rápido tratamento por parte dos enfermeiros.
Disse-me mais tarde que só se atreveu a avançar porque se sentia responsável pelo acto( era o unico daquela cova que fumava...) e fundamentalmente pela necessidade de apanhar a mala onde tinha o dinheiro que a família havia enviado para tirar a carta de condução em Bissau...)
Os guerrilheiros, esses, estariam em acções fora, caso contrário teriam atacado...
Em dado momento,alguém que presumo tenha sido o próprio capitão de Cafal(que à guiza do nosso optara por acompanhar esta operação) esquecendo que atrás de si havia ainda um número significativo de homens,na qualidade de "inspirador de Rambo",decidiu atear fogo às tabancas...
De imediato,umas rajadas curtas de meia duzia de Kalashs,troou os ares denunciando a posição dos até aí invisiveis guardadores de gado - objectivamente para alertar os guerrilheiros que estivessem na zona - possibilitando-nos um envolvimento que proporcionaria "apanhá-los à mão" e consequentemente "fazer ronco"...
A primeira reacção de quem sente os disparos é obviamente a procura do solo para de seguida avaliar a situação...
o pessoal do fim da "fila de pirilau" método como habitualmente nos deslocávamos ficou "entalado" entre o fogo labaredas e o fogo munições porque os da frente não reagiam, não avançavam, tornando critica a nossa posição...
Conseguimos sair do braseiro ao fim de algum tempo e quando esperávamos a ordem de envolvimento por quem chefiava a operação( capitão de Cafal) apercebemo-nos que se iniciara uma galopada desenfreada por entre o capim tendo como objectivo primeiro a saída do local que poderia ser um ninho de vespas se acaso fôssemos envolvidos...
Cá atrás fomos obrigados a fazer o mesmo para evitar a perda de contacto...
Ao longo dos vinte e cinco meses de comissão, foi o acto de que entendo nos devemos envergonhar todos... Mas chefia é chefia e na tropa ordens não se discutem...
Noutra operação a companhia "perdeu" a última secção, que o autor destas linhas comandava quando lá na frente desligaram os AVP1 no seu frenesim louco de "catar recuerdos" nas palhotas IN...
Decidi ficar a proteger a rectaguarda, não fosse acontecer sermos envolvidos pelo lado da bolanha que antes atravessáramos para ali chegar, e entretanto o pessoal da frente embrenhou-se no tabancal e dali arrancou "sem dar cavaco"...
Apercebendo-me da falta de contacto e não conseguindo,via AVP1, obter qualquer ligação, perdi ao Rodeia( transmissões que ficara com a secção) para usar outras frequências, redundando as "démarches" na ligação com outra tropa que andava no sectos que, por sua vez, através do Racal, alertou o resto do nosso pessoal para a ocorrência...
Regressaram para nos juntarmos uma vez que os guias seguiram com eles...
Aquando das férias do Caseiro,bom rapaz mas vaguemestre bastante criticado durante toda a comissão devido à forma pouco variada como elaborava os menús do dia a dia, onde o estilhaço de frango, o peixe da bolanha ou o esparguete com chouriço eram invariavelmente a base da dieta, decidiu o capitão Terrivel( provavelmente incitado pelo saudoso 1º Ginja...)colocar-me nessa função para a qual evidentemente não estava talhado esperançado talvez no meu insucesso para dessa forma acabarem as "bocas" que muito justamente todos nós lançávamos ao Caseiro...
Fi-lo sem nunca ter passado por uma cozinha, desconhecendo por completo os segredos da culinária( tinha vagamente a noção de como se estrelava um ovo...) para conseguir
pela PRIMEIRA VEZ, ao fim de tanto tempo decorrido, oferecer um quarto de frango com batata assada no forno da padaria, em vez dos habituais "estilhaços" com esparguete ou massa de cotovelo como sempre nos brindara o Zé Caseiro.
Em escassos trinta dias,presenteei toda a companhia com duas vacas quando o habitual era apenas uma, se tanto...já que meses havia em que o recurso às gazelas dos caçadores era abusivo e o gado bovino não constava das ementas...
Infelizmente para mim não pude prolongar a experiência pois os trinta dias fora do mato como que voaram, e o pessoal voltou a ter de se resignar com a comida do Caseiro...
Outro episódio que me ocorre é o de um ataque a Cafine onde foi usada uma nova arma, o RPG8, experimentada com êxito no Guilége, como fez questão de sublinhar o capitão cubano ROMANO TORRES, através de uma munição da referida arma e um escrito onde nos intimava a abandonar a zona em três dias, sob pena de ficarmos para sempre ali em tumbas...
Foram três dias angustiantes mas que acabariam por dar em nada.
Digamos que o efeito psicológico surtira efeito já que passamos esse espaço de tempo sob tensão...
O ataque aconteceu sim mas apenas cerca de quinze dias depois mas nada a que não estivessemos habituados já e ao qual responderíamos de forma adequada dentro dos parâmetros correctos habituais...
Relembro um ataque em que o saudoso Martins, bastante doente com paludismo teve de abandonar a tenda/secretaria "afogando-se" nos dejectos do exterior uma vez que naquele estado não tinha tempo de se deslocar à "casa de banho" e aliviava-se onde era mais perto...
Em boa hora o fez pois que a secretaria pura e simplesmenmte ardeu...pudera também era de lona...
Noutra ocasião,nas covas de Cafal,um pavoroso incêndio numa delas( os locais eram bastante propícios pois a palha que se deitava no solo para evitar o contacto directo do colchão de ar com a terra,a juntar às munições que por ali inadvertidamente iam sendo espalhadas mercê das condições infra humanas de habitabilidade a que se juntava ainda a função de pequenos paióis para guarda de munições de morteiro 6o e bazuka que levávamos todos os dias nas saídas ao mato)
levou à atitude, a todos os títulos heroica, do falecido Barbosa que sob as labaredas
e disparos das munições espalhadas no solo que por acção do calor iam criando algum
pânico,se atreveu a entrar no buraco arrastando uma caixa de morteiros 60 que a explodir iria por certo ter consequências desastrosas pra depois ir buscar a sua mala com a roupa salvando-a das chamas.
Ficou com as costas em estado verdadeiramente lastimoso com a pele a cair-lhe aos pedaços enormes mau grado o rápido tratamento por parte dos enfermeiros.
Disse-me mais tarde que só se atreveu a avançar porque se sentia responsável pelo acto( era o unico daquela cova que fumava...) e fundamentalmente pela necessidade de apanhar a mala onde tinha o dinheiro que a família havia enviado para tirar a carta de condução em Bissau...)
domingo, 25 de janeiro de 2009
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
A "messe" de CAFAL- um espaço delimitado por ramos de palmeira e situado no extremo oposto àquele onde nos encontrávamos- tinha um "telhado" de panos de tenda e folhas e um mobiliário constituído por quatro mesas e umas quantascadeiras feitas com aduelas de pipos do horrível vinho enviado de Lisboa.
Num dos cantos do quadrilátero estavam colocadas quatro arcas e um frigorífico com alimentação feita a petróleo, que devido às centenas de vezes que eram abertos durante o dia se limitavam a amornar os refrigerantes e cervejas quentes lá introduzidos.
De quando em vez ali nos deslocávamos para conviver logo após o jantar de marmita que ingeríamos mesmo junto ao "apartamento" sob um cajueiro de pequeno porte.
Se não o fazíamos com mais assiduidade, isso devia-se ao factoda distância, bem como à hipótese de sermos atacados com flagelações durante o trajecto e não podermos depois estar nos nossos lugares para dirigir a resposta.
Ainda hoje revejo com alguma nostalgia uma fotografia onde estou com o Valadas,e o algarvio Campos das transmissões a jogar cartas esperando ver o tempo passar...
Todos os dias, pessoal dos nossos dois grupos rumava para CAFINE ali a pouco mais de um quilómetro onde estava o resto da companhia entretanto chegado e a viver em tendas, experiência que faria pouco depois também com o Moura o Almeidão e também o soldado Fernandes,(maiato como eu,que era uma espécie de impedido no grupo,ele que tinha problemas de saúde e dificuldade em locomover-se devido a inchaços nas pernas)fartos que estávamos dos buracos escavados, e onde numa madrugada(corriam as cinco horas...) certamente bati o recorde mundial de salto em comprimento aquando dum ataque ao arame.
Tenho o sono pesado, e fui um bocado lento a reagir,isto é apesar de chamado pelos outros não acordei de imediato e quando me apercebi estavam os turras
a soltar impropérios e a despejar munição para cima de nós.
O espaço que mediava entre o cajueiro grande onde à sua sombra protectora havíamos instalado duas tendas contíguas e a vala circundante do abrigo era de uns bons vinte a vinte e cinco metros....
Corri, arma numa mão e cinturão na outra, formei o salto e caí na vala roçando as costas numa raíz de árvore que me cortou as ditas fazendo surgir sangue quente que fezpensar ser motivado por algum estilhço...
A dor não foi por aí além e depois do ataque quando já debaixo do chuveiro de campanha (levava apenas cinco litros de água)procurava verificar a ferida, de novo somos obrigados a um mergulho no chão.
Os turras quando abandonaram o local ainda jogaram um último RPG...
Todos os dias,dizia, o nosso pessoal se juntava ao resto da companhia em CAFINE,para então em obediência à imposição vinda de Bissau,se proceder à construção das habitações para serventia das populações, antes ainda de o fazermos para nós próprios...
Foram muitas dezenas de casas erigidas com paredes de adobe, travejamento de madeira de cibo (uma espécie de palmeira de madeira fibrosa e dura como aço) e telhado(manga de ronco...) feito de chapa de zinco canelada,as que entregamos ( sim porque ali ninguém de BISSAU se atrevia a aparecer para oficializar a entrega à guiza do que acontecera em BISSUM e
acontece aqui um pouco por todo o lado por alturas das campanhas eleitorais...
chegando mesmo a repetir-se as inaugurações sempre com a comunicação social a testemunhar o reverendo padre a abençoar...Quem tem cú tem medo!!!
Para que houvesse rapidez de execução, pois disso dependia, segundo promessa havida,a saída daquele inferno que era o Cantanhez, dei comigo, vezes sem conta, a pisar a lama e a palha que constituíam a argamassa do adobe que depois de convenientemente seco ao sol, ali mesmo junto à enorme cova de onde se extraía o barro para ganhar a consistência necessária.
Muita foi a cerveja que paguei ao pessoal por forma a incentivar a um aumento de prodituvidade pagando também a alguns Guinéus na tentativa de ter ali alguma ajuda. Raras vezes o fizeram, mesmo sabendo que os destinatérios das casas seriam eles próprios...
E não me digam que era por uma questão de hostilidade ao português e solidariedade com o PAIGC pois isso seria verdadeira imbecilidade. Trtava-se apenas de falta de hábitos de trabalho.
Todos nós sabemos que naquelas sociedades o pouco trabalho executado é tarefa das mulheres. Ao homem cabe fazer os filhos e tomar umas bebedeiras....
Não foi nada fácil esta tarefa de feitura de habitações, tanto mais que era problemático definir uma localização porquanto os velhoshaviam já escolhido o mangueiro sob o qual pretendiam ser enterrados, não abdicando das suas ideias o que implicava uma perda de tempo que poderia ser precioso.
A juntar a este obstáculo da luta contra o tempo, havia a guerra em que estávamos envolvidos e agora também a sabotagem feita pelo PAIGC, que não via com bons olhos a ideia de reordenamento pois representava a possibilidade de trazer as populações para o nosso lado da barricada.
Como corolário dessa sabotagem aconteceu o episódio da mina colocada na estrada de ligação entre CAFAL e CAFINE, todos os dias coberta por vários camiões transportando o nosso pessoal em número considerável e que acabaria por ser espoletada à passagem de um UNIMOG 404 da companhia de CAFAL onde circulava apenas o motorista e o cabo da arrecadação, tendo o primeiro morrido e o segundo sofrido ferimentos de gravidade que implicaram de imediato a sua evacuação para LISBOA.
Relembro outra situação em que avançamos por zona IN por entre um tabancal onde não se via ninguém, mas onde curiosamente as casas ostentavam palha nova no telhado, isto quinze dias após a visita da tropa especial, numa operação algo complicada, que redundaria na queima das coberturas das palhotas.
Num dos cantos do quadrilátero estavam colocadas quatro arcas e um frigorífico com alimentação feita a petróleo, que devido às centenas de vezes que eram abertos durante o dia se limitavam a amornar os refrigerantes e cervejas quentes lá introduzidos.
De quando em vez ali nos deslocávamos para conviver logo após o jantar de marmita que ingeríamos mesmo junto ao "apartamento" sob um cajueiro de pequeno porte.
Se não o fazíamos com mais assiduidade, isso devia-se ao factoda distância, bem como à hipótese de sermos atacados com flagelações durante o trajecto e não podermos depois estar nos nossos lugares para dirigir a resposta.
Ainda hoje revejo com alguma nostalgia uma fotografia onde estou com o Valadas,e o algarvio Campos das transmissões a jogar cartas esperando ver o tempo passar...
Todos os dias, pessoal dos nossos dois grupos rumava para CAFINE ali a pouco mais de um quilómetro onde estava o resto da companhia entretanto chegado e a viver em tendas, experiência que faria pouco depois também com o Moura o Almeidão e também o soldado Fernandes,(maiato como eu,que era uma espécie de impedido no grupo,ele que tinha problemas de saúde e dificuldade em locomover-se devido a inchaços nas pernas)fartos que estávamos dos buracos escavados, e onde numa madrugada(corriam as cinco horas...) certamente bati o recorde mundial de salto em comprimento aquando dum ataque ao arame.
Tenho o sono pesado, e fui um bocado lento a reagir,isto é apesar de chamado pelos outros não acordei de imediato e quando me apercebi estavam os turras
a soltar impropérios e a despejar munição para cima de nós.
O espaço que mediava entre o cajueiro grande onde à sua sombra protectora havíamos instalado duas tendas contíguas e a vala circundante do abrigo era de uns bons vinte a vinte e cinco metros....
Corri, arma numa mão e cinturão na outra, formei o salto e caí na vala roçando as costas numa raíz de árvore que me cortou as ditas fazendo surgir sangue quente que fezpensar ser motivado por algum estilhço...
A dor não foi por aí além e depois do ataque quando já debaixo do chuveiro de campanha (levava apenas cinco litros de água)procurava verificar a ferida, de novo somos obrigados a um mergulho no chão.
Os turras quando abandonaram o local ainda jogaram um último RPG...
Todos os dias,dizia, o nosso pessoal se juntava ao resto da companhia em CAFINE,para então em obediência à imposição vinda de Bissau,se proceder à construção das habitações para serventia das populações, antes ainda de o fazermos para nós próprios...
Foram muitas dezenas de casas erigidas com paredes de adobe, travejamento de madeira de cibo (uma espécie de palmeira de madeira fibrosa e dura como aço) e telhado(manga de ronco...) feito de chapa de zinco canelada,as que entregamos ( sim porque ali ninguém de BISSAU se atrevia a aparecer para oficializar a entrega à guiza do que acontecera em BISSUM e
acontece aqui um pouco por todo o lado por alturas das campanhas eleitorais...
chegando mesmo a repetir-se as inaugurações sempre com a comunicação social a testemunhar o reverendo padre a abençoar...Quem tem cú tem medo!!!
Para que houvesse rapidez de execução, pois disso dependia, segundo promessa havida,a saída daquele inferno que era o Cantanhez, dei comigo, vezes sem conta, a pisar a lama e a palha que constituíam a argamassa do adobe que depois de convenientemente seco ao sol, ali mesmo junto à enorme cova de onde se extraía o barro para ganhar a consistência necessária.
Muita foi a cerveja que paguei ao pessoal por forma a incentivar a um aumento de prodituvidade pagando também a alguns Guinéus na tentativa de ter ali alguma ajuda. Raras vezes o fizeram, mesmo sabendo que os destinatérios das casas seriam eles próprios...
E não me digam que era por uma questão de hostilidade ao português e solidariedade com o PAIGC pois isso seria verdadeira imbecilidade. Trtava-se apenas de falta de hábitos de trabalho.
Todos nós sabemos que naquelas sociedades o pouco trabalho executado é tarefa das mulheres. Ao homem cabe fazer os filhos e tomar umas bebedeiras....
Não foi nada fácil esta tarefa de feitura de habitações, tanto mais que era problemático definir uma localização porquanto os velhoshaviam já escolhido o mangueiro sob o qual pretendiam ser enterrados, não abdicando das suas ideias o que implicava uma perda de tempo que poderia ser precioso.
A juntar a este obstáculo da luta contra o tempo, havia a guerra em que estávamos envolvidos e agora também a sabotagem feita pelo PAIGC, que não via com bons olhos a ideia de reordenamento pois representava a possibilidade de trazer as populações para o nosso lado da barricada.
Como corolário dessa sabotagem aconteceu o episódio da mina colocada na estrada de ligação entre CAFAL e CAFINE, todos os dias coberta por vários camiões transportando o nosso pessoal em número considerável e que acabaria por ser espoletada à passagem de um UNIMOG 404 da companhia de CAFAL onde circulava apenas o motorista e o cabo da arrecadação, tendo o primeiro morrido e o segundo sofrido ferimentos de gravidade que implicaram de imediato a sua evacuação para LISBOA.
Relembro outra situação em que avançamos por zona IN por entre um tabancal onde não se via ninguém, mas onde curiosamente as casas ostentavam palha nova no telhado, isto quinze dias após a visita da tropa especial, numa operação algo complicada, que redundaria na queima das coberturas das palhotas.
sábado, 24 de janeiro de 2009
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
Que o diga Paiva, furriel de Cafal que se atreveu com dois soldados a colher laranjas,sendo surpreendidos com um ataque a tiro que os obrigou a proteger-se atrás das árvores que lhes salvaram as vidas,crivadas que foram pelas balas inimigas...
Como só haviam levado uma G3, uma catana e um saco para os frutos,pouco puderam fazer senão disparar de forma controlada, poupando munições,procurar a protecção das próprias árvores e esperar que alguém se apercebesse,no quartel de tiros de G3 em resposta às KALASHS...
Foi o que aconteceu com alguns fuzileiros que partilhavam o espaço connosco e que,de imediato,saindo em linha afugentaram o IN
Este episódio ilustra bem o grau de perigosidade que aquela zona representava sem sombra de dúvida.
A escassos cem metros de casa,já se "embrulhava"...
A determinada altura do processo, mau grado sabermos da proibição mas
tendo em linha de conta que a zona era muito complicada em termos de segurança, lá arranjamos umas chapas de bidon a que juntamos uns troncos de cibo e terra com fartura criando assim um tecto protector que logo de seguida fomos obrigados a retirar por indicações dos "cráneos" de Bissau que entendiam que dessa forma, sentindo protecção, seríamos menos activos.
Lá,na guerra do ar condicionado onde os profissionais se pavoneiam e aproveitam para umas actividades paralelas altamente lucrativas pendurando no fim umas chapinhas definidoras do fim de comissão mais umas medalhas com que se autopremeiam,como se realmente tivessem sido ganhas merecidamente debaixo de fogo,não há a noção do ridiculo...
Ali no Cantanhez, o pó era mais que muito e quando puxado pelo vento dificultava de forma assaz notória,toda a gente, mas em especial os indivíduos que tivessem mazelas a nível respiratório.
Foi o que aconteceu a um dos nossos soldados de que agora não recordo o nome, e que acabaria por sucumbir a uma dessas situações.
Asmático,nunca deveria ter sido integrado no exército, mas vivia-se um período de falta de militares (havia os que por meios fraudulentos conseguiam ser afastados do cumprimento do dever) sendo os seus lugares preenchidos por indivíduos como o caso agora referido... Todos nós conhecemos situações de corrupção a esse nível...
Lembro-me perfeitamente da sua evacuação através dum hélio e quando subiu em maca para o aparelho estou convicto que já era cadáver...
Ali as flagelações eram constantes, bem como alguns ataques mormente ao arame.
Um dia, de regresso de uma operação, "capturamos" dezassete vacas que colocamos num redil improvisado para servirem,mais tarde de enriquecimento à nossa dieta feita "estilhaços" de frango e gazela com massa, para além do peixe da bolanha a que chamávamos peixe carvalho sem v... com arroz cimento, mas via rádio, fomos intimados a levar os animais até ao lugar de captura.
Acção psicológica( psícola como dizíamos) que visava criar uma imagem de protecção às populações mesmo àquelas que se sabia estarem em rota de colisão com Portugal, preferencialmente até com estas, dimanada dos centros de decisão de Bissau onde nunca faltava nada à mesa dos ditos "cráneos" contráriamente ao que era tão comum nos operacionais espalhados pelos território.
A necessidade aguça o engenho, teria sido como dar um tiro no próprio pé, após tanto esforço para capturar o gado e trazê-lo, ser obrigado a levá-lo de novo ao local de origem sem pelo menos ter provado uns quantos bifes...
Convenhamos que seria um autêntico crime!!!
Assim,durante a noite,um dos sentinelas disparou uma rajada para o redil abatendo dois animais desculpando-se com o barulho que terá detectado nolocal e que atribuiu a pessoal inimigo...
A quantidade de carne que as duas reses proporcionaram foi pouca uma vez que os animais eram esqueléticos, mas pelo menos fez-se alternância à gazela e ao frango de estilhaço...
Como só haviam levado uma G3, uma catana e um saco para os frutos,pouco puderam fazer senão disparar de forma controlada, poupando munições,procurar a protecção das próprias árvores e esperar que alguém se apercebesse,no quartel de tiros de G3 em resposta às KALASHS...
Foi o que aconteceu com alguns fuzileiros que partilhavam o espaço connosco e que,de imediato,saindo em linha afugentaram o IN
Este episódio ilustra bem o grau de perigosidade que aquela zona representava sem sombra de dúvida.
A escassos cem metros de casa,já se "embrulhava"...
A determinada altura do processo, mau grado sabermos da proibição mas
tendo em linha de conta que a zona era muito complicada em termos de segurança, lá arranjamos umas chapas de bidon a que juntamos uns troncos de cibo e terra com fartura criando assim um tecto protector que logo de seguida fomos obrigados a retirar por indicações dos "cráneos" de Bissau que entendiam que dessa forma, sentindo protecção, seríamos menos activos.
Lá,na guerra do ar condicionado onde os profissionais se pavoneiam e aproveitam para umas actividades paralelas altamente lucrativas pendurando no fim umas chapinhas definidoras do fim de comissão mais umas medalhas com que se autopremeiam,como se realmente tivessem sido ganhas merecidamente debaixo de fogo,não há a noção do ridiculo...
Ali no Cantanhez, o pó era mais que muito e quando puxado pelo vento dificultava de forma assaz notória,toda a gente, mas em especial os indivíduos que tivessem mazelas a nível respiratório.
Foi o que aconteceu a um dos nossos soldados de que agora não recordo o nome, e que acabaria por sucumbir a uma dessas situações.
Asmático,nunca deveria ter sido integrado no exército, mas vivia-se um período de falta de militares (havia os que por meios fraudulentos conseguiam ser afastados do cumprimento do dever) sendo os seus lugares preenchidos por indivíduos como o caso agora referido... Todos nós conhecemos situações de corrupção a esse nível...
Lembro-me perfeitamente da sua evacuação através dum hélio e quando subiu em maca para o aparelho estou convicto que já era cadáver...
Ali as flagelações eram constantes, bem como alguns ataques mormente ao arame.
Um dia, de regresso de uma operação, "capturamos" dezassete vacas que colocamos num redil improvisado para servirem,mais tarde de enriquecimento à nossa dieta feita "estilhaços" de frango e gazela com massa, para além do peixe da bolanha a que chamávamos peixe carvalho sem v... com arroz cimento, mas via rádio, fomos intimados a levar os animais até ao lugar de captura.
Acção psicológica( psícola como dizíamos) que visava criar uma imagem de protecção às populações mesmo àquelas que se sabia estarem em rota de colisão com Portugal, preferencialmente até com estas, dimanada dos centros de decisão de Bissau onde nunca faltava nada à mesa dos ditos "cráneos" contráriamente ao que era tão comum nos operacionais espalhados pelos território.
A necessidade aguça o engenho, teria sido como dar um tiro no próprio pé, após tanto esforço para capturar o gado e trazê-lo, ser obrigado a levá-lo de novo ao local de origem sem pelo menos ter provado uns quantos bifes...
Convenhamos que seria um autêntico crime!!!
Assim,durante a noite,um dos sentinelas disparou uma rajada para o redil abatendo dois animais desculpando-se com o barulho que terá detectado nolocal e que atribuiu a pessoal inimigo...
A quantidade de carne que as duas reses proporcionaram foi pouca uma vez que os animais eram esqueléticos, mas pelo menos fez-se alternância à gazela e ao frango de estilhaço...
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
Primeiro o trabalho da força aérea despejando napalm nos locais onde se pretendia edificar.
Depois seriam as forças especiais no terreno a "limparem" os focos de resistência.
A terceira fase consistiu na entrada das máquinas da engenharia militar para criar as condições básicas de instalação de companhias no terreno, abrindo covas/habitação.
Por fim,seria a vez da "tropa macaca" tentar fazer do espaço a sua habitação fixa, tendo ainda por missão a feitura de tabancas para reordenar as populações dentro de um perímetro pré definido de controle pelas companhias.
Obviamente, a ideia trouxe custos a quem teve a desdita de participar nesta última etapa.
É que passamos a ser o alvo fixo da bateria de morteiros inimiga,que com grande mobilidade se instalava para atacar dois ou três aquartelamentos da zona.
Não conseguindo de Lisboa o reforço de efectivos estimado para uma operação daquela envergadura, Spínola seguiu a máxima de que quem não tem cão caça com gato, isto é,fez uso do improviso,tão a gosto dos portugueses,e retirando uma companhia daqui e dois grupos de combate dacolá... foi reunindo o mínimo dos mínimos de que carecia para dar corpo ao projecto...
Meu Deus o que nós passamos!
Seria no âmbito dessa operação que nos calhou em sortes (1º e 3º grupos...)avançar uns meses antes da companhia em voo atribulado para CUFAR num NORD ATLAS provavelmente do tempo da "maria cachucha", onde apanharímos depois uma LDG que nos deixaria num porto improvisado de CAFAL BALANTA ficando então adidos à companhia ali residente há poucos dias, companhia essa que partilhava o espaço com tropa especial,
mormente fuzileiros.
A situação de doença de uns e ausência por férias ou destacamento para Bissau de outros,redundou num emagrecimento grande nos dois grupos já que seguimos apenas cerca se quarenta homens,sem qualquer oficial,já que o alferes Prata do 1ºgrupo permanecia em férias e o periquito Forte que viera substituir muito tardiamente o alferes Almeida(que rumara para a Justiça em Bissau dada a sua condição de jurista)
mal chegara a Bissum conseguiu "criara as condições para ser evacuado para Bissau a pretexto de uma queda...)
Foram pois os sacrificados do costume(1º e 3ª grupos) a avançar para a guerra a sério...
Umas quatro dezenas de homens esfarrapados comandados pelo autor destas linhas na qualidade de furriel mais antigo(tinha a melhor nota entre os atiradores...)iria tentar sobreviver em condições infrahumanas de habitabilidade num território hostil a todos os títulos.
Logo a mim,o mais anti-militarista de todos mas talvez também um dos mais sofredores e cumpridores, caberia a missão de ter de apresentar aqueles "maltrapilhos" a um oficial de alta patente ( creio que um brigadeiro da força aérea...)
ZÉ Maria Vilares e Moura foram os outros dois furrieis a quem o azar do abandono prematuro de Bissum impedira de provar os produtos hortículas da famosa ecológica horta de Naga que eu aquando da primeira vinda de férias, ajudara a criar ao levar tudo quanto era semente (compradas curiosamente na casa de um ex-ministro de um dos primeiros governos saídos da intentona militar abrilina, Alípio Dias de seu nome, no Porto...) e a que o primeiro Ginja,acolitado por Cepeda,dera corpo.
DO pessoal,ser-me-á dificil lembrar-me da maioria mas eles sabem que encontrei em todos o gene da gente sofredora,lutadora,capaz, apanágio do português.
Não regatearam esforços, antes dando o seu melhor, entregando-se de corpo e alma ao projecto de sobrevivência que todos tínhamos em mente, desde a primeira hora, e que passava também por procurar cumprir aquela dificílima missão dos reordenamentos feita
em zona altamente perigosa...
Quanto mais depressa executassemos o trabalho de feitura das tabancas mais rapidamente poderíamos aspirar a sair de lá,(confiando no que havia sido prometido
pelos altos comandos ao capitão Terrível...)
A gente desse tempo, náo mentia como os actuais políticos...
Haviam sido formados nos valores da dignidade e do respeito da pessoa humana...
Chegados a CAFAL, apresentados ao capitão daquela unidade foi-nos indicado o local de acampamento.
Deram-nos a zona confinante com a bolanha,talvez o unico lugar passível de sofrer ataques, e ainda uma parte da frente do laranjal...
Os "apartamentos" que nos confiaram foram umas quantas covas nuas onde nos dividimos em grupos de quatro ou cinco( diga-se de passagem que os deles tinham o mesmo visual de Robinson Crusué onde a palha e as folhas de palmeira tinham lugar de destaque já que nos estava vedada a hipótese de forrar o tecto a chapa de bidon e troncos...)
A cama era um colchão pneumático,nalguns casos já furado como o meu,que me obrigava
a encher uma ou duas vezes por noite antes de adormecer.
Enquanto não chegou o arame farpado para delimitarmos o nosso espaço não descansamos.
Foram dois ou três dias sem dormir, em contínuo sobressalto, temendo que o IN pudesse atacar-nos de surpresa enquanto cochilassemos...
Parece incrível como um simples arame farpado onde penduramos umas quantas garrafas vazias e outras tantas latas de refrigerantes, já criava alguma sensação de segurança.
Algum tempo depois fomos visitados pelo homem do monóculo,"homem grande" como lhe chamavam os guinéus, que sem sair da zona protegida do helicóptero a trabalhar, nos haveria de encher de promessas relativamente a tudo aquilo de que precisássemos...
- Sois os sacrificados desta guerra, uns verdadeiros herois que servem a Pátria nesta fase difícil.
Que podemos fazer para vos compensar?
Apenas dar-vos a certeza de que o vosso esforço não será em vão, e prometer-vos todo o apoio de que careçam para minimizar as dificuldades, no tempo em que aqui estiverdes nesta gloriosa missão de defesa da nossa querida Pátria!
Tudo aquilo que estiver ao nosso alcance será feito, por forma a proporcionar-vos a regularidade de envio de frescos alimentares e correio.
Efectivamente, nos primeiros tempos ainda vinham uns frescos e correio, atirados em sacos de rede por para-quedas, mas fruto da intensificação e sofisticação do material de guerra posto à disposição do IN pela então União Soviética- os grandes amigos dos "revolucionários" portugueses(?)-como os misseis terra ar e aviões MIG, bem melhores que os nossos já caducos FIAT,os pilotos recusaram voar daí a necessidade de nos deslocar-nos em pequenos barcos com motores fora de borda,os SINTEX,( curiosamente feitos na fábrica do mesmo nome,hoje extinta,em Crestins/Maia)
correndo sérios riscos de ataques vindos das margens no trajecto fluvial que separava CUFAR de CAFAL-BALANTA e mais tarde CAFINE.
É que as LDM ou LDG que subiam ou desciam o CUMBIDJAN faziam-no sempre batendo zona com as Wellington( a arma que roubou um dos braços ao Ernesto aquando da vinda do resto da companhia para o sul com o objectivo de instalação em CAFINE que distava pouco mais de um quilómetro de CAFAL) enquanto que aquela pequena casca de noz que utilizávamos ~mal tinha espaço para trazer alguns géneros e dois ou três soldados com o piloto...
Como atrás referi, havia um laranjal pejado de citrinos a pedir que os colhessem acicatando-nos a vontade de comer, mas apesar de se situar a escassos cem metros do arame farpado, era já um lugar perigoso pois os indivíduos do PAIGC que dali haviam sido desalojados via napalm, regressavam quase diariamente,à socapa,para apanhar os pertences, e algum gado miúdo, deixados para trás na desenfreada fuga que haviam encetado.
Tiros ouviam-se por ali com regularidade...
Depois seriam as forças especiais no terreno a "limparem" os focos de resistência.
A terceira fase consistiu na entrada das máquinas da engenharia militar para criar as condições básicas de instalação de companhias no terreno, abrindo covas/habitação.
Por fim,seria a vez da "tropa macaca" tentar fazer do espaço a sua habitação fixa, tendo ainda por missão a feitura de tabancas para reordenar as populações dentro de um perímetro pré definido de controle pelas companhias.
Obviamente, a ideia trouxe custos a quem teve a desdita de participar nesta última etapa.
É que passamos a ser o alvo fixo da bateria de morteiros inimiga,que com grande mobilidade se instalava para atacar dois ou três aquartelamentos da zona.
Não conseguindo de Lisboa o reforço de efectivos estimado para uma operação daquela envergadura, Spínola seguiu a máxima de que quem não tem cão caça com gato, isto é,fez uso do improviso,tão a gosto dos portugueses,e retirando uma companhia daqui e dois grupos de combate dacolá... foi reunindo o mínimo dos mínimos de que carecia para dar corpo ao projecto...
Meu Deus o que nós passamos!
Seria no âmbito dessa operação que nos calhou em sortes (1º e 3º grupos...)avançar uns meses antes da companhia em voo atribulado para CUFAR num NORD ATLAS provavelmente do tempo da "maria cachucha", onde apanharímos depois uma LDG que nos deixaria num porto improvisado de CAFAL BALANTA ficando então adidos à companhia ali residente há poucos dias, companhia essa que partilhava o espaço com tropa especial,
mormente fuzileiros.
A situação de doença de uns e ausência por férias ou destacamento para Bissau de outros,redundou num emagrecimento grande nos dois grupos já que seguimos apenas cerca se quarenta homens,sem qualquer oficial,já que o alferes Prata do 1ºgrupo permanecia em férias e o periquito Forte que viera substituir muito tardiamente o alferes Almeida(que rumara para a Justiça em Bissau dada a sua condição de jurista)
mal chegara a Bissum conseguiu "criara as condições para ser evacuado para Bissau a pretexto de uma queda...)
Foram pois os sacrificados do costume(1º e 3ª grupos) a avançar para a guerra a sério...
Umas quatro dezenas de homens esfarrapados comandados pelo autor destas linhas na qualidade de furriel mais antigo(tinha a melhor nota entre os atiradores...)iria tentar sobreviver em condições infrahumanas de habitabilidade num território hostil a todos os títulos.
Logo a mim,o mais anti-militarista de todos mas talvez também um dos mais sofredores e cumpridores, caberia a missão de ter de apresentar aqueles "maltrapilhos" a um oficial de alta patente ( creio que um brigadeiro da força aérea...)
ZÉ Maria Vilares e Moura foram os outros dois furrieis a quem o azar do abandono prematuro de Bissum impedira de provar os produtos hortículas da famosa ecológica horta de Naga que eu aquando da primeira vinda de férias, ajudara a criar ao levar tudo quanto era semente (compradas curiosamente na casa de um ex-ministro de um dos primeiros governos saídos da intentona militar abrilina, Alípio Dias de seu nome, no Porto...) e a que o primeiro Ginja,acolitado por Cepeda,dera corpo.
DO pessoal,ser-me-á dificil lembrar-me da maioria mas eles sabem que encontrei em todos o gene da gente sofredora,lutadora,capaz, apanágio do português.
Não regatearam esforços, antes dando o seu melhor, entregando-se de corpo e alma ao projecto de sobrevivência que todos tínhamos em mente, desde a primeira hora, e que passava também por procurar cumprir aquela dificílima missão dos reordenamentos feita
em zona altamente perigosa...
Quanto mais depressa executassemos o trabalho de feitura das tabancas mais rapidamente poderíamos aspirar a sair de lá,(confiando no que havia sido prometido
pelos altos comandos ao capitão Terrível...)
A gente desse tempo, náo mentia como os actuais políticos...
Haviam sido formados nos valores da dignidade e do respeito da pessoa humana...
Chegados a CAFAL, apresentados ao capitão daquela unidade foi-nos indicado o local de acampamento.
Deram-nos a zona confinante com a bolanha,talvez o unico lugar passível de sofrer ataques, e ainda uma parte da frente do laranjal...
Os "apartamentos" que nos confiaram foram umas quantas covas nuas onde nos dividimos em grupos de quatro ou cinco( diga-se de passagem que os deles tinham o mesmo visual de Robinson Crusué onde a palha e as folhas de palmeira tinham lugar de destaque já que nos estava vedada a hipótese de forrar o tecto a chapa de bidon e troncos...)
A cama era um colchão pneumático,nalguns casos já furado como o meu,que me obrigava
a encher uma ou duas vezes por noite antes de adormecer.
Enquanto não chegou o arame farpado para delimitarmos o nosso espaço não descansamos.
Foram dois ou três dias sem dormir, em contínuo sobressalto, temendo que o IN pudesse atacar-nos de surpresa enquanto cochilassemos...
Parece incrível como um simples arame farpado onde penduramos umas quantas garrafas vazias e outras tantas latas de refrigerantes, já criava alguma sensação de segurança.
Algum tempo depois fomos visitados pelo homem do monóculo,"homem grande" como lhe chamavam os guinéus, que sem sair da zona protegida do helicóptero a trabalhar, nos haveria de encher de promessas relativamente a tudo aquilo de que precisássemos...
- Sois os sacrificados desta guerra, uns verdadeiros herois que servem a Pátria nesta fase difícil.
Que podemos fazer para vos compensar?
Apenas dar-vos a certeza de que o vosso esforço não será em vão, e prometer-vos todo o apoio de que careçam para minimizar as dificuldades, no tempo em que aqui estiverdes nesta gloriosa missão de defesa da nossa querida Pátria!
Tudo aquilo que estiver ao nosso alcance será feito, por forma a proporcionar-vos a regularidade de envio de frescos alimentares e correio.
Efectivamente, nos primeiros tempos ainda vinham uns frescos e correio, atirados em sacos de rede por para-quedas, mas fruto da intensificação e sofisticação do material de guerra posto à disposição do IN pela então União Soviética- os grandes amigos dos "revolucionários" portugueses(?)-como os misseis terra ar e aviões MIG, bem melhores que os nossos já caducos FIAT,os pilotos recusaram voar daí a necessidade de nos deslocar-nos em pequenos barcos com motores fora de borda,os SINTEX,( curiosamente feitos na fábrica do mesmo nome,hoje extinta,em Crestins/Maia)
correndo sérios riscos de ataques vindos das margens no trajecto fluvial que separava CUFAR de CAFAL-BALANTA e mais tarde CAFINE.
É que as LDM ou LDG que subiam ou desciam o CUMBIDJAN faziam-no sempre batendo zona com as Wellington( a arma que roubou um dos braços ao Ernesto aquando da vinda do resto da companhia para o sul com o objectivo de instalação em CAFINE que distava pouco mais de um quilómetro de CAFAL) enquanto que aquela pequena casca de noz que utilizávamos ~mal tinha espaço para trazer alguns géneros e dois ou três soldados com o piloto...
Como atrás referi, havia um laranjal pejado de citrinos a pedir que os colhessem acicatando-nos a vontade de comer, mas apesar de se situar a escassos cem metros do arame farpado, era já um lugar perigoso pois os indivíduos do PAIGC que dali haviam sido desalojados via napalm, regressavam quase diariamente,à socapa,para apanhar os pertences, e algum gado miúdo, deixados para trás na desenfreada fuga que haviam encetado.
Tiros ouviam-se por ali com regularidade...
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
EVOCAÇÃO Tempos de Guiné
O tempo passava com períodos melhores e outros nem por isso... até que surgiu o baptismo de fogo através de uma flagelação que deixaria a companhia num pânico total uma vez que a milícia , vivendo paredes meias com o quartel e sendo portadora de armas iguais às que o IN utilizava, começou a disparar para o ar, por cima do quartel, em sinal de regozijo, ambiente de "ronco" que as balas tracejantes lhes propiciavam, dando-nos a falsa ideia de que o inimigo se encontrava ali mesmo, ao arame...
Esse ataque teve o condão do despertar para a realidade ensinando-nos a avaliar bem o poder de fogo contrário e ganhar a necessária calma para poder reagir em consonância...
Recordo-o como se tivesse acontecido hoje mesmo...
Foi pouco depois do jantar que acontecia cedo, talvez pelas sete e picos da tarde numa altura em que praticamente todos os graduados se encontravam ainda na messe ou a jantar ou a tomar o cafezito da ordem...
De imediato, cada soldado, completamente em pânico, reage disparando "para onde estava virado"... Entretanto, o milícia Eusébio apercebendo-se da nossa inexperiência corre ao quartel
e como o nosso grupo era o que estava mais próximo da entrada, é a nós Almeida e eu próprio que nos dá a indicação de que se tratara de uma flagelação de meia dúzia de morteiradas que já tinha acabado faz tempo...
Por todo o quartel os disparos eram contínuos.
O nosso grupo posto em sentido por mim e pelo Almeida, junto à caserna, soltava alguns impropérios contra nós mas aguentava firme sem disparar um tiro...
Juntamente com Eusébio, corri à messe para avisarmos o capitão e todos os outros graduados que ali haviam ficado da necessidade de pararmos o pessoal.
Não foi fácil para ninguém suspender aquilo...
Deu-se a volta ao quadrado onde estavam disseminadas as casernas dos outros três grupos de combate bem como a dos "músicos" da mecánica e serralharia, e a muito custo conseguimos silenciar todos...
O terceiro grupo,esse, esteve ali em sentido sem disparar...
Os quarteis circunvizinhos acreditaram que estivessemos a embrulhar feio pois não paravam de chover as mensagens à procura de informações.
Estava consumado o baptismo.
Se não fôra Eusébio, talvez ainda hoje a companhia fizesse fogo...
Uma noite, após três dias seguidos de flagelações recebemos indicação, via rádio, para procedermos a uma operação punitiva tendo o celebérrimo Marcelino da Mata por companhia juntamente com o seu grupo de soldados, dois ou três para além da dúzia...
Acompanhámo-lo durante uma parte do trajecto para depois o deixarmos seguir apenas com os seus homens e o pessoal de INCHUNFLA.
No comando supremo de todos seguia o capitão João Terrível numa das suas raras incurs~es ao mato, que apenas visitara duas a três vezes mais, quando procurava caçar juntamente com o nosso velho e saudoso Ginja e o alferes Almeida, portador de uma habilidade espantosa para a nobre arte da caça já que nunca o vi falhar um tiro que fosse e mitas foram as ocasiões em que o acompanhei numa perspectiva de segurança e de candidatura ao petisco certo...
Poucos quilómetros após a travessia de uma bolanha onde nos atoláramos quase até ao pescoço, acabaríamos por emboscar enquanto aguardávamos o desfecho do golpe de mão que o extraordinário Marcelino haveria de executar desprovido de auxílio da milícia que entretanto,por imperativos operacionais, havia deixado para trás.
O fogachal foi tremendo. Via rádio, do nosso local de apoio onde dispunhamos de um morteiro 81, apercebemo-nos que a operação havia sido um êxito.
Desta vez Marcelino haveria de trazer prisioneiros, facto absolutamente inusitado até então, e esse gesto implicou a necessidade de instalação de uma tenda enorme em plena parada/terreiro por forma a alojá-los temporáriamente...
A "hospedagem completa" haveria de originar alguma perturbação na nossa despensa mas sem representar nada de insolúvel...
O ar sereno e os óculos de aros de tartaruga num rosto de barba crescida emprestavam-lhe a imagem de missionário, incapaz das atrocidades e violência gratuita quelhe eram imputadas.
Marcelino era o herói mitico de que todos ouvíramos falar um dia, que nada temia, cantado por todos, e do qual se contavam histórias, cada uma mais inacreditável que a outra, povoando assim o imaginário de todos nós militares em chão guinéu aspirantes à comissão acabada e candidatos ao regresso a salvo à metrópole...
Estar perto de Marcelino, cumprimentá-lo, era sentir direito a uma pequeno raio da sua auréola...
Participar com Marcelino, por menor que fosse o envolvimento, como que atestava a nossa capacidade de operacionais...
Com ele "contracenamos" duas vezes, onde na primeira das quais ssurgiria como primeiro sargento, e aquando da segunda ocasião ostentava já o galão de alferes, promoções essas obtidas por distinção.
Ao que parece, foi o unico militar Guinéu com quem o poder de Portugal se preocupou, trazendo-o Spínola antes da independência do território.
Se conseguiu evitar o pelotão de fuzilamento no novo país, acabou preso e torturado pela canalha da 5ª divisão da PREC em Portugal.
Ele que era um dos militares portugueses mais condecorados de todos os tempos...
Associada ao nome do seu capitão, João Terrível, a companhia foi ganhando estatuto VIP em Bissau mercê do apaziguador trabalho operacional na zona, bem como dos contínuos êxitos da "milicia nova", sempre "comandada" por brancos...
A resultante disso foi a imposição da dita ao projecto do "homem grande" que visava a tomada do controle total do Cantanhez onde o PAIGC fazia o abastecimento da comida.Fazê-los ceder pela fome era a intenção do governador.
A operação consistia em quatro fases distintas:
Esse ataque teve o condão do despertar para a realidade ensinando-nos a avaliar bem o poder de fogo contrário e ganhar a necessária calma para poder reagir em consonância...
Recordo-o como se tivesse acontecido hoje mesmo...
Foi pouco depois do jantar que acontecia cedo, talvez pelas sete e picos da tarde numa altura em que praticamente todos os graduados se encontravam ainda na messe ou a jantar ou a tomar o cafezito da ordem...
De imediato, cada soldado, completamente em pânico, reage disparando "para onde estava virado"... Entretanto, o milícia Eusébio apercebendo-se da nossa inexperiência corre ao quartel
e como o nosso grupo era o que estava mais próximo da entrada, é a nós Almeida e eu próprio que nos dá a indicação de que se tratara de uma flagelação de meia dúzia de morteiradas que já tinha acabado faz tempo...
Por todo o quartel os disparos eram contínuos.
O nosso grupo posto em sentido por mim e pelo Almeida, junto à caserna, soltava alguns impropérios contra nós mas aguentava firme sem disparar um tiro...
Juntamente com Eusébio, corri à messe para avisarmos o capitão e todos os outros graduados que ali haviam ficado da necessidade de pararmos o pessoal.
Não foi fácil para ninguém suspender aquilo...
Deu-se a volta ao quadrado onde estavam disseminadas as casernas dos outros três grupos de combate bem como a dos "músicos" da mecánica e serralharia, e a muito custo conseguimos silenciar todos...
O terceiro grupo,esse, esteve ali em sentido sem disparar...
Os quarteis circunvizinhos acreditaram que estivessemos a embrulhar feio pois não paravam de chover as mensagens à procura de informações.
Estava consumado o baptismo.
Se não fôra Eusébio, talvez ainda hoje a companhia fizesse fogo...
Uma noite, após três dias seguidos de flagelações recebemos indicação, via rádio, para procedermos a uma operação punitiva tendo o celebérrimo Marcelino da Mata por companhia juntamente com o seu grupo de soldados, dois ou três para além da dúzia...
Acompanhámo-lo durante uma parte do trajecto para depois o deixarmos seguir apenas com os seus homens e o pessoal de INCHUNFLA.
No comando supremo de todos seguia o capitão João Terrível numa das suas raras incurs~es ao mato, que apenas visitara duas a três vezes mais, quando procurava caçar juntamente com o nosso velho e saudoso Ginja e o alferes Almeida, portador de uma habilidade espantosa para a nobre arte da caça já que nunca o vi falhar um tiro que fosse e mitas foram as ocasiões em que o acompanhei numa perspectiva de segurança e de candidatura ao petisco certo...
Poucos quilómetros após a travessia de uma bolanha onde nos atoláramos quase até ao pescoço, acabaríamos por emboscar enquanto aguardávamos o desfecho do golpe de mão que o extraordinário Marcelino haveria de executar desprovido de auxílio da milícia que entretanto,por imperativos operacionais, havia deixado para trás.
O fogachal foi tremendo. Via rádio, do nosso local de apoio onde dispunhamos de um morteiro 81, apercebemo-nos que a operação havia sido um êxito.
Desta vez Marcelino haveria de trazer prisioneiros, facto absolutamente inusitado até então, e esse gesto implicou a necessidade de instalação de uma tenda enorme em plena parada/terreiro por forma a alojá-los temporáriamente...
A "hospedagem completa" haveria de originar alguma perturbação na nossa despensa mas sem representar nada de insolúvel...
O ar sereno e os óculos de aros de tartaruga num rosto de barba crescida emprestavam-lhe a imagem de missionário, incapaz das atrocidades e violência gratuita quelhe eram imputadas.
Marcelino era o herói mitico de que todos ouvíramos falar um dia, que nada temia, cantado por todos, e do qual se contavam histórias, cada uma mais inacreditável que a outra, povoando assim o imaginário de todos nós militares em chão guinéu aspirantes à comissão acabada e candidatos ao regresso a salvo à metrópole...
Estar perto de Marcelino, cumprimentá-lo, era sentir direito a uma pequeno raio da sua auréola...
Participar com Marcelino, por menor que fosse o envolvimento, como que atestava a nossa capacidade de operacionais...
Com ele "contracenamos" duas vezes, onde na primeira das quais ssurgiria como primeiro sargento, e aquando da segunda ocasião ostentava já o galão de alferes, promoções essas obtidas por distinção.
Ao que parece, foi o unico militar Guinéu com quem o poder de Portugal se preocupou, trazendo-o Spínola antes da independência do território.
Se conseguiu evitar o pelotão de fuzilamento no novo país, acabou preso e torturado pela canalha da 5ª divisão da PREC em Portugal.
Ele que era um dos militares portugueses mais condecorados de todos os tempos...
Associada ao nome do seu capitão, João Terrível, a companhia foi ganhando estatuto VIP em Bissau mercê do apaziguador trabalho operacional na zona, bem como dos contínuos êxitos da "milicia nova", sempre "comandada" por brancos...
A resultante disso foi a imposição da dita ao projecto do "homem grande" que visava a tomada do controle total do Cantanhez onde o PAIGC fazia o abastecimento da comida.Fazê-los ceder pela fome era a intenção do governador.
A operação consistia em quatro fases distintas:
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